Quatro meses depois de ter criado um diário no Facebook para denunciar os problemas na estrutura da escola onde estuda, em Florianópolis (SC), a adolescente Isadora Faber viu sua vida ser transformada. Com quase 500 mil seguidores na rede social, ela passou a dar palestras em diversas partes do País para contar sua história e não pode mais sair de casa sozinha por causa de ameaças sofridas pela família.
Na semana passada, Isadora passou quatro dias longe da escola porque foi convidada para ser palestrante em um seminário sobre cidadania na Bahia. Ao lado de promotores, que contaram suas experiências com as denúncias sobre problemas nos serviços prestados à população, a menina de apenas 13 anos deixou de lado a timidez e contou sobre a sua experiência com o diário. Dias antes, esteve em São Paulo onde falou para uma plateia de cerca de 600 publicitários sobre como lidar com as críticas. Para o próximo ano, segundo a família, já são mais de quatro convites confirmados para palestras em diferentes regiões.
Apesar desse reconhecimento, a fama da adolescente também trouxe consequências negativas. No mês passado, a casa da família foi apedrejada e a avó da menina, de 65 anos, foi ferida no rosto. A família registrou um boletim de ocorrência e a Polícia Civil investiga o caso. O Ministério Público do Estado também abriu uma sindicância para apurar suspeitas de que a menina estaria sofrendo ameaças na escola. "Antes ela ia para a escola sozinha, mas agora nós levamos ela todos os dias. A Isadora não anda mais tranquilamente na rua como antes", lamenta a mãe, Mel Faber.
Segundo Mel, a direção da escola não aceitou as críticas feitas pela menina no blog - como os problemas na estrutura, as aulas dos professores - e passou essa posição para os demais alunos e para a comunidade escolar. "É uma pena terem esse posicionamento, de não aceitar as críticas". Ainda de acordo com a mãe, boa parte dos colegas de Isadora não conversam mais com a adolescente nas aulas. "Só uma meia dúzia que continuou amigo dela, os outros ficaram com medo de serem repreendidos pela escola e se afastaram", afirma.
No começo do mês, pais e professores chegaram a lançar um manifesto contra a página criada por Isadora no Facebook. "Estamos trazendo um outro olhar sobre o Diário de Classe, que no início era positivo e estimulou o rápido reparo na estrutura, e passou a focar-se em ataques pessoais a professores e trabalhadores", afirmaram. Entre as críticas da escola ao diário, estão as cobranças de Isadora a um pintor após a demora na conclusão da reforma na quadra de esportes da escola.
Mesmo assim, a adolescente não quer trocar de colégio. A rematrícula, para cursar a 8ª série na Escola Básica Municipal Maria Tomázia Coelho, já foi feita. "Nem sei como ela consegue lidar com essa situação, mas prefere continuar na escola e nós respeitamos a decisão", afirma a mãe. A troca de escola deve acontecer somente em 2014, já que a escola municipal não oferece ensino médio. A escolha, segundo a família, será por uma escola particular.
Os planos para o futuro
Apesar das críticas de colegas e professores, Isadora não pretende parar com o diário. A mãe da menina confirmou que planeja ampliar a atuação, com ações mais "concretas" para ajudar a melhorar a educação no País. "Não sabemos ainda como vai ser, mas a Isadora conheceu vários projetos interessantes durante essas palestras", diz Mel, que não descarta a possibilidade de criação de uma ONG. "Da Bahia, ela veio com bons exemplos de promotores que fazem parcerias com empresas para recuperar escolas, hospitais".
Mel, que tem mais duas filhas - uma de 16 anos e outra de 25 - acredita que, apesar das ameaças e das críticas ao trabalho da filha, o Diário de Classe foi positivo, pois ajudou no amadurecimento de Isadora. "Ela aprendeu muito a se expressar, melhorou o português e procura se informar sobre tudo", afirma ao fazer questão de ressaltar que Isadora continua sendo a mesma menina simples de antes. "Nesse ponto ela não mudou, não tem essa bobagem de 'se achar', continua sendo a mesma menina tímida, está conseguindo administrar essa repercussão".
Em uma mensagem publicada no último sábado no Facebook, a adolescente destacou o "aprendizado" proporcionado pelo diário. "Esses eventos que estou participando estão sendo muito bons para mim, em todos os sentidos, tenho melhorado da minha timidez, conhecido muita gente esclarecida, escutando e aprendendo com outros palestrantes, trocando experiências, enfim, ganhando experiência. Com tudo isso, estou cada vez mais informada, e enxergo cada vez melhor os problemas que ocorrem nas escolas públicas do Brasil". De acordo com a mãe, a família não ganha dinheiro pela participação da menina nas palestras, apenas as despesas de viagem são custeadas pelos organizadores dos eventos.
Ainda sobre o futuro, a própria Isadora diz na página do Facebook o que aprendeu e o que espera. "Estou me dando conta que o mundo é muito mais que minha escola e minha casa. Estou conhecendo pessoas reais da internet, pessoas inteligentes, pessoas modernas. Pessoas que não estão acomodadas, que estão acompanhando o tempo, que sabem que os tempos mudaram. A escola tem que mudar também, tudo, desde a infraestrutura, professores, direção e alunos".
Fonte: Terra
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