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Coração de porco pode começar a ser transplantado para humanos

No Brasil, existem cerca de 220 pessoas aguardando um transplante de coração, segundo o Ministério da Saúde. Apesar deste número parecer pequeno, a demora pode durar meses – e até mesmo anos – por causa da dificuldade de se conseguir um doador compatível e de entraves logísticos que podem comprometer a captação.

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No primeiro semestre de 2013 foram feitas 126 operações do tipo em todo o país – 227 foram registradas em 2012, 43% a mais que 2011. Incompatibilidade e rejeição são problemas que podem comprometer a eficácia do transplante. Para minimizar esses efeitos colaterais e acabar com a dependência de imunossupressores, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) investem na técnica de descelularização cardíaca.

A ideia é transformar o coração de um animal em um órgão adaptável ao corpo humano. Para isso, os cientistas retiram todas as células do coração doador e implantam nele células saudáveis do paciente que receberá o transplante. "Não deve haver risco de rejeição, porque as células que farão aquele órgão funcionar serão do próprio organismo receptor", explica Regina Coeli dos Santos Goldenberg, chefe do Laboratório de Cardiologia Celular e Molecular da UFRJ. Segundo ela, aos poucos, o organismo irá se adaptar e acomodar perfeitamente o novo órgão, sem precisar de remédios contra rejeição.

A pesquisa começou há cerca de dois anos e, por enquanto, os cientistas utilizam corações de ratos criados em laboratório. Os trabalhos com órgãos extraídos de porcos devem começar ainda em 2013. Como a estrutura cardíaca desse animal é semelhante ao do homem, ele foi escolhido para servir como matriz.

O grupo espera que os testes em corações de suínos sejam concluídos até o final de 2015, quando deve ser iniciado o processo de liberação dos primeiros testes em humanos.

Como funciona:

Descelularizar tecidos é uma técnica estudada por pesquisadores do mundo todo. Ela já é usada para fazer implantes de órgãos como bexiga, nariz, orelha e válvulas cardíacas. Os cientistas injetam uma substância chamada de detergente que lava o órgão e desgruda todos os componentes lipídicos (gordura), que compõem a estrutura celular. Desta forma, as células são expelidas.

No caso do coração, aos poucos, ele perde a cor avermelhada e fica quase transparente. Sobra apenas a membrana formada por colágeno e proteínas. Ela serve como um molde tridimensional, onde as células do paciente serão implantadas e, a partir daí, o novo coração será formado. "Elas serão injetadas no órgão que vai ser banhado aos poucos, recobrindo todos os espaços vazios. A ideia é de que nesse ambiente, as células comecem a desempenhar funções cardíacas, fazendo o coração bater de forma sincronizada", afirma Goldenberg.

Fonte: Folha Social